11 dezembro 2006

Doses de Tequila

Sal, tequila e limão. Nessa ordem.

O sal abre as papilas gustativas e protege a boca da acidez da tequila. Logo em seguida, uma dose de tequila é virada, provocando uma deliciosa sensação que toma conta da gente enquanto a bebida vai descendo. E, por fim, o limão que fecha as papilas gustativas e quebra o excesso de tequila que fica na boca.
É uma experiência muito gostosa, tanto na parte da degustação quanto pelo ritual e pela curtição do momento.

E eu poderia escrever aqui uns 7 ou 8 textos diferentes, com metáforas diferentes, ligadas à tequila e tudo o que envolve o momento em que ela se faz presente.
Só que uma coisa tem me incomodado bastante, e por isso vou levar o texto por um caminho em que eu possa chegar perto, nem que seja pouco, de uma conclusão sobre o porquê das pessoas fazerem isso, e assim tentar entender um pouco.

Tenho percebido que as pessoas têm utilizado demais seus mecanismos de defesa. Claro, todo mundo tem que ter um pouco disso. É quase instintivo, ainda mais no mundo louco de hoje, as pessoas se protegerem como podem. Contudo, agora já virou mania, obsessão. Talvez até moda, sei lá... E o que elas conseguem com esse comportamento exagerado de se esconder de tudo? Simples: ficam limitadas, à mercê de qualquer coisa fútil e boba que a vida pode lhes trazer. Nunca experimentam experiências diferentes, ousadas, que lhe tragam algo novo, seja como aprendizado ou como lembrança.

Tudo isso citado acima é ainda mais presente e notável quando se trata de relacionamentos.
As pessoas enchem de sal as partes mais doces de uma relação, para poder se proteger de qualquer reação mais ácida no futuro, mas depois não conseguem experimentar o sabor mais puro e gostoso da tequila. Viram a tequila tão rápido, de uma só vez, sem apreciar nada, sem paixão, apenas pra falar que beberam, mal sabendo se era daquele jeito mesmo que era para beber. E terminam por azedar tudo com o limão, para tirar de vez o gosto que elas nem sabem (e nunca vão saber) se ia ser forte demais ou não, se ia ser bom ou ia ser ruim.

Muitas vezes as pessoas teimam, inclusive, em fingir um mecanismo de defesa que elas não têm. E sofrem sem sentido. Todo mundo deveria encarar os relacionamentos e a vida em geral como se estivessem com doses de tequila à sua frente. Cada momento é diferente... Cada experiência é única como a união dos três ingredientes do ritual etílico, pois sempre estamos com pessoas novas, em lugares distintos, com humor variável a cada situação. É saboroso, delicioso, enche a gente de alegria e enche nossa cara com um sorriso. Cada companhia marca o momento de forma mais diferente e especial... E a experiência em um relacionamento, assim como em uma rodada de tequila, será sempre memorável, seja pelo ritual quase erótico e afrodisíaco que terminou com todos em profundo êxtase, seja pela dor de cabeça horrível e a ressaca moral no dia seguinte.

Enfim... Acho que só posso falar por mim no fim de todas essas constatações...
Eu amo tequila. E amo poder amar tequila, sem medo de acabar me embriagando sem querer e ficar sozinho no chão do banheiro. O que vale pra mim é poder lembrar de cada dose... Cada gole de músicas, sentimentos, carícias e olhares que eu pude experimentar. E tudo que ficou do passado que eu lembro com carinho por saber que aprendi da minha própria maneira, a sorver o máximo possível do sabor da vida e dos amores que ela me traz.

N. B. (Nota do Blogueiro): Se você terminou de ler e chegou à seguinte conclusão: “putz, o Rubens virou um alcoólatra de vez”, releia o texto, pois você não entendeu nada... E eu torço pra que você entenda, algum dia, o significado dos sabores à nossa volta. Obrigado.


*Ouvindo: Incubus – Are You In