15 fevereiro 2011

iMundo


O mundo perdeu o sentido pra mim.

Não. Não o meu mundo. E eu estou exatamente onde eu queria estar, hoje, na minha vida. Pelo caminho que eu segui, de olhos bem abertos. Às vezes com confiança demais, às vezes com cautela demais, e talvez até fora do ritmo e da velocidade devida (confesso até que, muitas vezes, propositalmente, pelas recompensas que eu sempre obtive disso).

O meu mundo é bem bonito, e bem completo. Não falo isso por vaidade, como os que me conhecem pela metade poderiam julgar, mas sim por pura gratidão, por ter essa sorte rara de ter uma vida cheia de possibilidades e de personagens incríveis.

Eu tenho uma família incrível, completa. Eles têm, cada um, o seu próprio mundo. E eu sempre insisti em termos o nosso mundo em comum o mais arrumado e bem cuidado possível. Nem sempre isso é possível, e eu me revolto. Todos falam palavras ruins uns pros outros. Algumas dessas palavras a gente retira. Outras, a gente muda o tom, o contexto, o sentimento. E tudo volta ao normal. Não ao meu normal, mas ao normal comum.

Eu tenho uma namorada incrível, que me completa. Ela tem o mundo dela, pelo qual me encanto a cada dia. Também temos o nosso mundo, mas às vezes me pego invadindo o mundo dela, feito um alienígena. E qual alienígena não assustaria? Principalmente quando os dois têm seu mundo em comum para construir, em paz e com muita harmonia e amor? Já não é difícil o bastante construir um mundo novo no meio de tantos outros? Um mundo em comum?

Eu tenho minhas músicas! E cada uma responde para mim uma pergunta que eu não soube nunca responder de um jeito mais normal. Cada uma em seu tom diferente, seu ritmo diferente, sua velocidade, seus compassos e seus sentimentos diferentes. Mas às vezes sinto que cada letra é um hino diferente para cada parte diferente do meu mundo. E quando estou em um lugar, por vezes me esqueço do hino do outro, e de seu significado para mim.

Eu tenho muitos amigos. Os lugares ocupados pela maioria deles são invariavelmente rotativos. Ora, não por escolha minha. Achar isso seria muita pretensão minha, mais até que injustiça alheia. O mundo gira em movimento de rotação, em torno de si mesmo, em 24 horas. Dados o tamanho do planeta Terra, o infinito do universo e a velocidade em que tudo ocorre, isso é extremamente rápido. Mesmo que pareça demorar toda uma vida. Por que o meu mundo seria diferente de qualquer outro, ou especialmente do qual eu mesmo vivo?

O fato é que mesmo quando eu giro em torno de mim mesmo, eu não sei girar sem pensar em quem vive em cada país dentro da minha alma, do meu coração. Penso em não girar muito devagar, nem muito rápido. E, às vezes, acabo saindo do meu próprio eixo.

E é aí que eu vejo tantas outras pessoas fora de seus eixos, fazendo do mundo maior um lugar cheio de ingratidão, desconfiança e descuidado. Orgulhando-se desse mundo ser tão rápido, mesmo que descompassado, e tão completo, mesmo que por pura vaidade. Um mundo onde todos estão ainda mais conectados e ainda mais isolados em seus próprios mundos inertes, contra tudo o que gire em direção contrária às suas.

E então eu me sinto, finalmente, em uma aula de geografia, terminando de responder a última pergunta de todas as que me foram ditadas durante quase 27 anos. E percebo que, enquanto estava respondendo-as, não ouvi as outras tantas perguntas que foram ditadas nos meus mais recentes anos.


Talvez isso seja um pedido de socorro. Qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode ajudar a responder as novas perguntas. Mas talvez eu mesmo tenha que encontrar as respostas, em mim mesmo, em minha família, em meus amigos, em minha namorada ou em minhas músicas. Por mim, e por tudo o que ainda gira junto comigo em meu mundo.


*Ouvindo: Dream Theater - The Spirit Carries On