22 novembro 2016

Santa Cecília (parte 2 - ou "Dos Reencontros")

Voltar a textos antigos é sempre um reencontro. Há muitos que se perguntam qual conselho dariam, com o conhecimento acumulado com a idade, aos seus "eus" do passado. Poucos mantêm, porém, a humildade para aprender com a simplicidade e pureza de seu passado, descartando qualquer possibilidade de aprendizado mútuo através de sua própria reconexão interior.

Entre tantas revisitas - não apenas aqui dentro do (In)formation como em anotações datadas de até 14 anos atrás -, uma tornou-se ligação plena entre muito do meu passado e muito do meu presente: o texto sobre Santa Cecília.

Uma Santa Cecília foi o meu presente mais inesperado e mais significativo de aniversário desse ano. Nunca tive, entre tantos presentes e objetos simbólicos ao meu redor, uma imagem de um(a) santo(a), fosse um quadro, uma estátua ou algo qualquer. Além dessa novidade, ela "apareceu", pontualmente, no ano em que me declarei, aberta e completamente, músico. O presente em si foi dado pelos desdobramentos naturais dessa própria decisão anterior.

Aprendi muito mais sobre ela. Aprendi que, além de padroeira da música, ela também é protetora dos noivos que respeitam esse compromisso e também dos casais que se amam. Em um ano em que me abri completamente à busca pela minha espiritualidade, eis que a presença mais marcante da representação de Cecília se fez perceptível e determinante, pro resto da minha vida, em duas ocasiões, revelando - diante dos meus olhos - histórias e segredos que nem a musa mais inspiradora me convenceria a escrever

Ao contrário do senso comum, eu conto a milagreira, mas não contarei os milagres. Mais que isso, não há a menor necessidade de se prender a fatos - ainda que únicos - como se fossem datados, quando estes imprimem marcas comprovadamente eternas. O que fica é a lição sobre acreditar. Acreditar sempre em si mesmo como parte do todo maior. Acreditar que o reencontro, seja consigo mesmo ou com pessoas que nos trazem de volta à luz - é natural, pois é naquele momento e lugar que percebemos a que pertencemos - enquanto origem e não objeto de posse.

Hoje é, novamente, dia de celebrar sua história e sua simbologia, independente da que exista em cada um, pois a energia relacionada a você é verdadeira, em todos de nós que ainda permitem a ligação entre o que se é e o que se busca.

A música continua a me dar e ensinar tudo o que sempre busquei, pelo amor e pela dor. Não é a imagem em gesso em si, nem o bairro, nem a estação que carregam, como significantes, todas essas dádivas e aprendizados; é a existência de um caminho em comum e de histórias que se embaraçam em um tecido temporal-espacial que transforma contos milagrosos em realidade. Como bem fazem as mais belas canções.

*Ouvindo: Rush - The Garden