22 fevereiro 2007

Música (Co)incidental


Para começar, peço desculpas pela demora a quem ainda visita este blog em busca de algum espasmo de consciência e conceitos que (ainda que raramente) passem pela minha cabeça.
O motivo é até óbvio, para não dizer repetitivo: acontece com tantos o evento da vida, quando começamos a nos deixar tomar pelos momentos, sejam eles banais, importantes, inadiáveis ou ainda necessários... Esses dias, São Paulo estava no meio de uma chuva absurda, eu estava de frente para o metrô Clínicas, em um ponto de ônibus.
De repente, me peguei observando a paisagem. Era um cinza brilhante... Na verdade, um prateado... O céu combinando com os prédios e o asfalto, como se fossem todos pintados numa mesma tela com os mesmos tons, e bem no meio uma propaganda vermelhíssima (acho que ficou mais vermelha ainda com as gotas de chuva sobrepondo-se a ela) de um banco famoso. Também havia duas árvores, em particular, com as folhas muito verdes e flores bem roxas. Parecia uma foto. E eu percebi que, se os filmes são milhões de fotos em seqüência numa velocidade incrivelmente rápida, ainda não inventaram uma máquina que nos dê uma imagem tão rápida e bonita e perfeita quanto a vida.

Então, essa noção de não parar para escrever ou racionalizar as coisas quando nós temos tudo isso para curtir, e não nos dá tempo para parar, foi exatamente o que se passou comigo desde o último post. E tem muito a ver com o que eu vou publicar hoje.

Em um dos nada raros momentos de auto-filosofia, me peguei pensando na coisas que nos fascinam por se apresentarem iguais a nós ou ao nosso modo de pensar a vida/enxergar o mundo. Damos vários nomes e expressões, como “estava escrito nas estrelas”, ou “é o destino”, ou ainda “o caminho inalterável das coisas”. Na verdade o que acontece é exatamente aquilo que procuramos. Para usar mais um clichê, “colhemos aquilo que plantamos”. Mas aqui não estou colocando no sentido de causa/conseqüência, apesar de ter essa carga associativa inclusa.

Coincidência. Conversando com um amigo no começo do ano (depois do meu último post aqui), discutimos o significado pelo significante: co-incidência. Significa que é um evento que acontece quando duas ou mais coisas incidem no mesmo ponto, ou na mesma direção, como queiram. É simples assim! Não foi o mundo todo ou os astros ou a cor da sua roupa de hoje que conspirou a favor de você conhecer uma pessoa, reencontrar outra que você acabou de pensar, conquistar algo que estava tão perto. São as pessoas mesmo que traçam seus caminhos e, se o objetivo de cada um destes for o mesmo, é óbvio e quase 100% provável que elas pensem do mesmo jeito, utilizem-se dos mesmos mecanismos para viver e observar o mundo e alcançar suas metas, e tinham naquele momento inclusive os mesmos conceitos e opiniões sobre os mesmos assuntos e acontecimentos.

me enganei muito muito pensando “nossa, foi o destino que me trouxe aqui...” Ou então “como posso estar ao lado de pessoas que têm tanto ao ver comigo?”. Isso não tem nada de sorte ou caminhostraçados. E é óbvio que cargas quase telepáticas ou conexões com pessoas de energia semelhante ou praticamente igual a nossa existem. É exatamente o que os astros e estrelas refletem para nós. Ou seja, eles não têm a resposta para o que queremos saber, pois são apenas espelhos, muito importantes para enxergarmos aquilo que não conseguimos ver sem luz... O que eles fazem é refletir exatamente o que fazemos aqui.

E tudo isso só traz a certeza de uma coisa: se temos algo ou alguém muito parecido por perto, tudo o que temos a fazer é valorizar esse momento e ter nessa pessoa também um astro ou uma estrela para refletir nossa luz e nossos sonhos e pensamentos. Nunca sabemos o quanto vai durar e por isso mesmo não podemos depositar todo nosso futuro nelas, para não as sobrecarregar de algo que ainda nem existiu. Devemos nos deixar levar pelo que encontramos no caminho, lembrando sempre que cada passo dado nos leva na mesma direção de muitos, e na direção oposta de muitos outros, e não há nada que possamos fazer além de aproveitar as nossas escolhas. Devemos curtir esses caminhos, curtir cada trilha sonora que cada cena carrega, curtir cada momento que cada pessoa nos proporciona, sem nunca atribuir somente ao outro a “culpa” ou “conseqüência” disso tudo... E devemos deixar que essa música co-incida em cada um de nós, pra sabermos quem, de fato, somos agora, procurando nas estrelas apenas o seu brilho e não mais todas as respostas do universo.

*Ouvindo: Soundgarden - Zero Chance