03 janeiro 2007

Mais um ano a menos...

Dessa vez, eu fiquei sem escrever durante todo esse tempo propositalmente.
Explico: não queria ser banalmente atingido e contagiado por essa síndrome hipócrita (ainda que seja na ocasião uma tentativa honesta de ter algum tipo de esperança) das festas de fim de ano. Talvez fosse escrever um texto que não tivesse nada a ver comigo em absoluto. Ficaria gravado aqui, então, um conceito inútil com votos de prosperidade pra um futuro que não existe em outro lugar que não nos calendários que ganhamos das padarias, farmácias e açougues.

Resumo essa introdução com o pedido para que leiam o meu primeiro post de 2005 (e penúltimo daquele blog) sobre minha relação com o tempo:

http://www.rubensdionisius.blogger.com.br/2005_01_01_archive.html

Enfim. Fato é que aconteceu. Eu esperava mais um daqueles finais do que chamamos de ano, e já esperava aquela coisa morna, cinza (mais cinza ainda com a garoa insistente do litoral sul de São Paulo), que faz a gente até perder a noção do nome do dia em que a gente está... Não foi nada raro me pegar pensando “hoje é sexta? Amanhã já é domingo?” e ouvir muitas outras pessoas ao redor fazendo as mesmas perguntas. É tudo um grande dia longo no qual a gente dorme 4 vezes a cada 24 horas (o que foi determinado por um certo contrato social que se chamasse dia). E o que fica na mente é que, ainda que tenhamos aprendido muito com o ano que passou, e que o aprendizado seja permanente enquanto vivermos, cada ano que passa é um ano que já passou. Cada ano a mais é na verdade um ano a menos na nossa linha da vida.
O último dia... Desculpem-me... As últimas 24 horas do ano não foram diferentes das 72 anteriores, salvo reuniões com os amigos e almoços com a família. Mas algo tomou conta de mim às 23:59 do dia 31 de dezembro de 2006: algo que nos anos anteriores vinha forte demais ou não vinha por absoluto... Uma sensação de necessidade de mudança. Sensação que trouxe uma certa coragem no meu peito quando os fogos começaram a subir na direção do céu escuro, sem estrelas, como se subissem pra pintar novas estrelas no lugar daquelas que sumiram. E então eu decidi, no primeiro minuto de 2007: quero pintar estrelas novas no meu céu daqui pra frente.

Não vejo motivo algum (a não ser meu ceticismo sobre conceitos iguais a esse) para não chamar essa sensação de esperança. Não na paz mundial, nem no amor entre diferentes raças e credos. Isso sim, seria muito mais egoísmo do que ter a esperança que eu senti, de que eu tomaria de vez as rédeas das minhas buscas e construiria, à partir dali, meu próprio caminho, ou ainda diversos caminhos diferentes pra que eu possa escolher um definitivo, se eu tiver essa oportunidade. Não vejo como egoísmo pensar nos meus caminhos e buscas, pois sem eles eu não poderei nunca fazer a minha parte como membro de uma sociedade, de uma raça, de um povo, de um grupo, de uma banda, de uma universidade, de uma família. Simplesmente desejar tudo de bom está bem longe de dedicar-se ao que mais gosta e, como conseqüência, fazer o possível pra que tudo esteja, continue ou comece a ficar bom.

Os fogos acabaram, mas essa chama ficou e ficará aqui dentro por muito tempo... Tempo esse imensurável. Não me sinto contagiado pelo bichinho do fim de ano. Me sinto contagiado pelas estrelas que foram sumindo para dar lugar a novas cores, formas e movimentos no céu.

E que as novas estrelas, ainda que passageiras aos olhos, permaneçam brilhando infinitamente na alma.


*Ouvindo: Pearl Jam - Oceans