08 dezembro 2008

Santa Cecília

Antes de começar um novo texto, sinto a necessidade urgente de dizer que, desde minha última postagem, nada de concreto mudou... O que foi decidido desde então continua decidido, e as coisas até vão bem, obrigado. Tanto que o que eu notei depois de erguer a cabeça e ir atrás do que realmente faz parte de mim, me encontrei e desencontrei em vários lugares, pessoas, ações, momentos... Até que finalmente, em um final de tarde, uma amiga me pergunta se eu estava seguindo um “jejum de música”, sugerido por um cara qualquer na Internet, por ser a véspera do dia de Santa Cecília. Estava no meio de uma música que dizia “I am a moth who just wants to share your light, I’m just na insect trying to get out of the night, I only stick with you because there are no others... You’re all I need...” e o que me chamou atenção não foi nem um pouco a idéia pseudo-alternativa de um jejum de música, ainda que seja uma idéia original. O que me botou em um estado de quase frustração comigo mesmo foi não saber até aquele momento que Santa Cecília é a padroeira da música.

Pra resumir a coisa, tudo o que quiserem saber sobre a Santa está neste link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Cecília. Mas, não mais que repentinamente, tudo o que me ligava de certa forma à ela e ao nome dela me veio à mente como várias imagens em slide... O bairro, aqui em São Paulo, é um dos poucos que posso dizer que não conheço quase nada, mas que sempre me trouxe uma curiosidade, uma coisa quase de querer descobri-lo...

Era sempre uma estação antes da Marechal Deodoro (óbvio, ainda é, mas eu escrevi “era” remetendo a quando ser uma estação antes da Marechal Deodoro era realmente relevante por assim ser), e nessa época tudo o que eu queria é que a estação sumisse logo da minha frente, pra eu chegar logo no destino tão desejado...

Um bom tempo depois, num salto de 5 anos, Santa Cecília havia se tornado exatamente o oposto do que era antes: era o meu destino... em todos os sentidos. E para todos os meus sentidos... E mesmo eu estando a dois anos de descobrir, por uma amiga, que Santa Cecília e música tinham algo em comum, eu já sentia ali a música e todos os compassos e os acordes retumbando sobre minha pessoa, em um momento muitíssimo parecido com o que vivo agora, onde havia me desapegado de tudo aquilo que não me era importante e, concomitante a isso, me fazia muito mal... Era praticamente um santuário, onde na verdade eu só estive duas vezes, mas a única vez que me faz lembrar de Santa Cecília é “aquela noite em que o amor verdadeiro pareceu possível”... Vinte e quatro horas onde eu vivi meu sonho lúcido antes mesmo de qualquer acidente posterior... E que valeu a pena.
E era a música, misturada com esse sentimento que eu vivo buscando, junto com o próprio querer viver por buscar, que me fazia desejar estar ali e em nenhum outro lugar.

E agora, depois de saber que Santa Cecília é a padroeira do que me faz abrir os olhos de manhã e acreditar que eu estou aqui por um motivo, ela me traz ainda novos ares, e de novo novos prismas, novas sensações, ainda que pareçam as velhas... Me traz música de novo, daquelas que te divertem e te deixam felizes pura e simplesmente, e não daquelas que te fazem querer voar ou querer morrer. Me traz sorriso nos lábios agora, lembranças boas do passado e vontades simples de um futuro próximo. Mesmo que tudo não passe de coincidências e conseqüências, e que eu esteja vendo só o que eu quero ver do jeito que eu quis ver, com todas as capas de disco, e todos os nomes e lugares e fotos e filmes e cenas e palavras e sons e luzes e olhos (tão pequenos e parecidos com os de outrora), mais todas as pequenas coisas que nos conecta de alguma forma.
E eu sei que, ainda que tudo seja como antes ou até mesmo nada saia do lugar, Santa Cecília ainda estará , por mim, mesmo eu só sabendo agora que ela sempre esteve por mim como eu, sem saber, por ela... Mesmo que eu sofra as mesmas punições por preferir o fim à ter que lidar com algo que não faz parte de mim, ou me tornar algo que eu não sou.

Agora só me resta querer que “me sentem, me calem, me acalmem...” Ou talvez deixar tudo isso “pra uma outra vida... quando formos gatos...

Ouvindo: Beach Boys – Good Vibrations

19 setembro 2008

The Moth

Não esperem que eu entre em um casulo e me transforme em algo que não faz parte de mim. Por mais colorido e cheio de vida que fosse, não seria eu, enfim.
Não por querer me esconder no escuro do mundo, mas por querer tanto dividir uma luz da qual apenas eu me alimento e pela qual me guio.

Não dá mais pra aceitar a insônia, a angústia, a fome sem apetite, o ódio por alguém que nem sei sequer o nome ou a idade, a saudade de tudo o que eu nem conheci mas sempre quis e ainda quero viver. Não quero mais me ver e me comparar a todo momento, dentro de infinitas metáforas, a insetos que só vivem de construir e destruir logo em seguida; a seres pequenos que se chocam a todo momento; que nascem e morrem a todo momento; que são apenas banais e cuja única certeza é o fim em uma ou em uma gota de chuva ou em uma palma de mão ou sola de chinelo.

Não dá mais
, enfim, para me auto-sabotar ainda mais e acabar burlando o principal motivo por eu ainda estar aqui. E cada sorriso que me faz sorrir, cada aperto de mão de gratidão real, cada lágrima ou fato triste que me faz chorar por ser um ser chorante e não choramingador, cada olhar novo e cheio de significados para me ensinar a como ensinar, é o que me faz dormir no meio da insônia, afastar o que me deixa angustiado,
ainda que eu me arrependa de não saber afastar o que me alimenta sem eu querer. É o que me faz andar no meio dos outros insetos, mas ciente de que, tão logo eu me desprenda do enxame, eu conseguirei chegar àquela luz. Ainda que eu perca tudo pelo caminho. Ainda que a luz me ofusque. Ainda que os que voam a mais tempo não queiram dividi-la comigo. Ainda que eu tenha que me adaptar, mais uma vez, ao habitat que eu escolhi.

De qualquer maneira, o ciclo só se completa quando eu sair do casulo. E eu tenho que fazer por mim mesmo.


*Ouvindo: Mama Cass Elliot - Make Your Own Kind Of Music